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sexta-feira, 5 de abril de 2013


PRL - o poema da semana
segunda-feira, 1 de abril de 2013

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Domingo de manhã
Em Londres o tempo ainda vinha de mãos abertas,
era sempre dócil quando se inclinava no papel
pela primeira vez. Mas eu já tinha o nevoeiro nos dedos
e podia adivinhar as suas razões: os parques acolhiam
toda a espécie de sinais por entre as árvores,
as ruas que me couberam estavam escritas
nas más estrelas, faziam um barulho subterrâneo,
como máquinas. Era um deserto aquilo que começava
nas esquinas do Sonho? Na minha cabeça,
onde o pensamento iludia a língua.
Empurrado contra um muro sem palavras, eu riscava
o espaço todo à minha volta, riscava-o até à fronteira
nas grutas de sábado à noite. Temia que a minha
verdadeira vida não chegasse a encontrar-me,
enquanto os homens do lixo varriam as avenidas.
Mas tu tinha feito outros planos para mim,
tu com o teu cabelo cheio de búzios. Ao falar, abrias a porta
às primeiras instâncias da manhã. De pé, de olhos
fechados, como um rio que viesse por baixo das pedras
e trouxesse a rua de regresso ao dia.
Rui Pires Cabral in Resumo: a poesia de 2011

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