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sexta-feira, 26 de abril de 2013

Poema da semana


PRL - o poema da semana
segunda-feira, 22 de Abril de 2013

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Parede a parede dentro de mim
Nunca foi tão curto este quarto…
Era a hora do sol morto de um avião a subir
a voar fora de mim.
Cara
parede a parede
nunca foi tão curto este quarto.
Bailava a música sozinha
(nunca a música me soubera a silêncio desesperado).
Parede a parede
nunca foi tão curto este quarto.
Já tempestades arrancaram flores
esta arranquei-a eu dentro de mim
(…o avião galgando espaços…)
Parede a parede
nunca foi tão curto este quarto.
Rui Duarte Rodrigues in Os Meninos Morrem dentro dos Homens, Angra do Heroísmo, 1970

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Especial 25 de Abril


Já leste o Tesouro, de Manuel António Pina?


Este livro digital conta-te a história de um país triste e ajudar-te-á a perceber o significado do 25 de Abril...





Canções e poemas de Abril




Grândola Vila Morena | Bernardo Sassetti & Mário Laginha | 1001 Culturas 

(Clicar no título para ouvir)

25 de Abril a Cantar - Sara Tavares - Grândola Vila Morena


TROVA DO VENTO QUE PASSA - Manuel Alegre com Carlos Paredes,  e Amália Rodrigues

(Clicar para ouvir)

Trova do vento que passa
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não

Manuel Alegre

 

GRÂNDOLA VILA MORENA



Grândola, vila morena

Terra da fraternidade

O povo é quem mais ordena

Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade

O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade.

José Afonso


Liberdade



Viemos com o peso do passado e da semente

esperar tantos anos torna tudo mais urgente

e a sede de uma espera só se ataca na torrente

e a sede de uma espera só se ataca na torrente

Vivemos tantos anos a falar pela calada

só se pode querer tudo quanto não se teve nada
só se quer a vida cheia quem teve vida parada
só se quer a vida cheia quem teve vida parada
Só há liberdade a sério quando houver
a paz o pão
habitação
saúde educação
só há liberdade a sério quando houver
liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir.


Sérgio Godinho

Canções de Sérgio Godinho

Assírio e Alvim

ABRIL DE ABRIL



Era um Abril de amigo Abril de trigo

Abril de trevo e trégua e vinho e húmus

Abril de novos ritmos novos rumos.

Era um Abril comigo Abril contigo

ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril.
Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.
Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.
Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.
Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.




Manuel Alegre


30 Anos de Poesia

Publicações Dom Quixote


(Em construção)



Este  espaço encontra-se aberto a (muitas) outras sugestões! Colabora acrescentando um poema ou outra ideia qualquer! Podem ser  enviados "via comentários" ou para o meu "gmail" :) 
Vou ficar atenta! ;)



Durante os próximos dias terás, ainda, a oportunidade de  espreitar este "pequeno especial 25 de Abril" na página de abertura de qualquer computador, na biblioteca da nossa escola.

Nota final: tomei a liberdade de "desobedecer" ao AO90. 
   Rute Costa
 

sexta-feira, 19 de abril de 2013



  
 O RIO  
    Tu dizes: da tua mão direita flui um rio azul. Da tua mão esquerda flui o ténue tempo. Mas eu digo-te que o tempo não existe. O tempo é uma estrada circular como o mundo. O rio não é azul porque os rios não são azuis. Os rios são labirintos mágicos e transparentes onde os deuses repousam. Só o céu é azul.
    Tu ficas mudo. Ajoelhas junto ao rio, aos pés de um deus invisível. Dos teus lábios evola-se uma oração muda. A que estranho deus se dirigem os teus lábios? Que prece ou maldição balbucias ainda?
    Hoje todos os barcos estão ancorados. Adensa-se um fumo negro sobre a cidade. E a loucura arrasta-nos para fora dela.
    E eu digo-te que as palavras ainda respiram. Que o vento começa no corpo e as rosas vermelhas resistem. Mas a cidade já não tem razão de ser.
    E digo-te que este é o tempo de partirmos. De procurar o caminho através de labirínticas estradas circulares. Na demanda eterna de um porto seguro. Porque as cordas que nos amarravam a este cais rebentaram. Mas o teu corpo arde. Um rio flui da tua mão esquerda. Um rio azul. Mas só o céu é azul. Azul sete vezes.
    Morres devagar consumido pela erosão do tempo que flui ténue da tua mão direita. Estremeço. Pressinto a tua partida.
    Aos pés do deus invisível fica apenas um corpo translúcido cheio de barcos, âncoras, redes, conchas e peixes a arder.
    Tu já não existes. Só as marés podem nomear o teu nome.
    Outrora o teu corpo possuía o mistério dos bosques. Agora é um barco vazio. Que lugar foste habitar?
    Os meus dedos desprendem-se das cordas que amarravam o barco a este cais e eu parto com as marés, ignorante de paraísos ou prisões, em derradeiro naufrágio.
                                  Maria de Lourdes Simões in Contos de A Mar, Associação Cultural das Velas, 1999

sábado, 13 de abril de 2013

DIA DO BEIJO COMEMORA-SE HOJE



 
... Porque o beijo é poesia...

O Beijo

Congresso de gaivotas neste céu
Como uma tampa azul cobrindo o Tejo.
Querela de aves, pios, escarcéu.
Ainda palpitante voa um beijo.

Donde teria vindo! (Não é meu...)
De algum quarto perdido no desejo?
De algum jovem amor que recebeu
Mandado de captura ou de despejo?

É uma ave estranha: colorida,
Vai batendo como a própria vida,
Um coração vermelho pelo ar.

E é a força sem fim de duas bocas,
De duas bocas que se juntam, loucas!
De inveja as gaivotas a gritar...


Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'



 Horas Rubras 

Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos rubros e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas...

Oiço olaias em flor às gargalhadas...
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p'las estradas...

Os meus lábios são brancos como lagos...
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras...

Sou chama e neve e branca e mist'riosa...
E sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras! 

 
Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"



 Há Palavras que Nos Beijam 

 Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'



(Em construção) 

Deixo-vos um pequeno desafio: escolham, também, um poema e enviem! Podem aproveitar o espaço "comentários", aqui no blogue (para quem não tem o meu mail). Será publicado junto a estes! Se tiverem algum original vosso, melhor ainda! Pode ser anónimo ou não, podem, ainda, aproveitar para o dedicar a alguém se preferirem! Fico a aguardar a vossa participação! ;)


segunda-feira, 8 de abril de 2013

PRL - o poema da semana
segunda-feira, 8 de Abril de 2013

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São Jorge, Pianos de Mar
Ao Eduardo Bettencourt Pinto
Do Corvo a Santa Maria…
Fico na ilha de S. Jorge: com laços de luz
nos ouvidos à espera que o moinho
do morro das Velas venha um dia
a moer a memória da distância
e o morro de Lemos seja da altura
da lua!
Nas ruínas da casa de Francisco de
Lacerda há-de haver um piano
com cauda de mar
que vá desde a Fragueira à Fajã
de S. João
e passe o seu silêncio através do canal
nas asas dos grilos!...
Fico em S. Jorge para ouvir
o mar dar a volta ao silêncio
e cobrir de azul toda a água da noite
e ver o funcho a crescer pelos caminhos!
Espero no cais das Velas o regresso
dos pescadores e canto a raiz
das conteiras ao sol da manhã.
Fico em S. Jorge
como um homem antigo cheio
de hábitos modernos. Como um
peixe de sangue quente, coração
e mãos ardentes, capaz
da colheita do milho
e da carícia humana dos poemas!
Fico em São Jorge:
- Viajar sem Viajar!
Carlos Faria (1929-2010) in S. Jorge – Ciclo de Esmeralda

sexta-feira, 5 de abril de 2013


PRL - o poema da semana
segunda-feira, 1 de abril de 2013

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Domingo de manhã
Em Londres o tempo ainda vinha de mãos abertas,
era sempre dócil quando se inclinava no papel
pela primeira vez. Mas eu já tinha o nevoeiro nos dedos
e podia adivinhar as suas razões: os parques acolhiam
toda a espécie de sinais por entre as árvores,
as ruas que me couberam estavam escritas
nas más estrelas, faziam um barulho subterrâneo,
como máquinas. Era um deserto aquilo que começava
nas esquinas do Sonho? Na minha cabeça,
onde o pensamento iludia a língua.
Empurrado contra um muro sem palavras, eu riscava
o espaço todo à minha volta, riscava-o até à fronteira
nas grutas de sábado à noite. Temia que a minha
verdadeira vida não chegasse a encontrar-me,
enquanto os homens do lixo varriam as avenidas.
Mas tu tinha feito outros planos para mim,
tu com o teu cabelo cheio de búzios. Ao falar, abrias a porta
às primeiras instâncias da manhã. De pé, de olhos
fechados, como um rio que viesse por baixo das pedras
e trouxesse a rua de regresso ao dia.
Rui Pires Cabral in Resumo: a poesia de 2011

segunda-feira, 1 de abril de 2013

FINALMENTE!!!!
FEZ-SE JUSTIÇA EM NOME DA LÍNGUA PORTUGUESA!!!!!!
PODEMOS DIZER ADEUS AO (SES)ACORDO ORTOGRÁFICO!!!!
YEEEESSSSS!!!!

NA VERDADE, AO foi feito por uma ou duas pessoas que SEMPRE se furtaram e furtam à crítica. Quase todos os falantes qualificados, escritores, professores, académicos ligados profissionalmente à linguística e outros académicos (sem falar no cidadão comum), se pronunciaram contra o AO. O que eles não tinham visto era os seus argumentos serem analisados, discutidos e respondidos. MAS ACABOU POR ACONTECER!!!!! OBRIGADO A TODOS OS QUE SE EMPENHARAM NESTA LUTA MAIS DO QUE NECESSÁRIA!

"A minha pátria é a língua portuguesa», escreveu, profeticamente, Fernando Pessoa."

SE TAMBÉM ERA CONTRA, PARTILHE!!!

"A minha pátria é a língua portuguesa», escreveu, profeticamente, Fernando Pessoa. O seu génio expressou-se também, inúmeras vezes, em língua inglesa – mas aquele que viria a tornar-se o mais internacional dos escritores portugueses sabia que cada língua tem a sua cor, a sua luz e a sua música própria, e que a arte da escrita consiste em levar para lá dos limites convencionais os dons expressivos de cada língua. A sua primeira originalidade foi essa: a de se entregar ilimitadamente à sua língua, sem complexos de mando nem de escravo. Por isso escreveu sobre o conhecido e o desconhecido, o alto e o baixo, a estética e o comércio, a política e a astrologia. Criou uma constelação de heterónimos e semi-heterónimos – incluindo uma extraordinária Maria José – que lhe permitiram explorar, visceralmente, as mais diversas possibilidades do ser. E foi, evidentemente, um poeta inultrapassável – o tempo paralisa-se diante dos seus textos, sempre inscritos numa verdade futura. Semeador de papéis com um único livro publicado em vida («Mensagem»), sonhador de impossíveis que jamais se deixou esmagar pela monótona incompreensão do seu tempo, Fernando Pessoa deixou uma obra múltipla e incisiva, que continua a surpreender-nos, a seduzir-nos e, acima de tudo, a desafiar-nos a quebrar as fronteiras do corpo e da alma, da vida e do sonho, da reflexão e dos sentimentos. Uma obra absolutamente universal."


Inês Pedrosa


(EM CONSTRUÇÃO)