O Dia Internacional do Livro e dos Direitos de Autor comemora-se hoje, a 23 de Abril. Desde 1995 que, por iniciativa da UNESCO, se celebra em todo o mundo o prazer da leitura.
O genial e irreverente Daniel Pennac - escritor francês - em Como um Romance, proclama:
Ei-los, os Direitos Inalienáveis do Leitor
O direito de não ler.
O direito de saltar páginas.
O direito de não terminar o livro.
O direito de reler.
O direito de ler não importa o quê.
O direito ao “bovarysmo” (doença textualmente transmissível).*
O direito de ler não importa onde.
O direito de “colher aqui e acolá”.
O direito de ler em voz alta.
O direito de não falar sobre o que leu.
* Bovarismo s. m. (fr. bovarysme; ing. bovarism). Tendência patológica para se idealizar, para se identificar com uma personagem que se admira ou que se inveja a qualquer título (pela sua fortuna, pela sua importância, pela sua posição social, etc.). Ling.: Segundo Madame Bovary, romance de Gustave Flaubert. Trocando em miúdos; uma visão deturparda de si mesmo, uma autoconcepção diferente da realidade ou se pretender ser o que na verdade não se é. (Larousse)
"O desaparecimento da leitura em voz alta é muito estranho. O que teria Dostoievski pensado disto? E Flaubert? Já não há o direito de colocar as palavras na boca antes de as meter na cabeça? Já não há ouvidos? Já não há música? Já não há saliva? As palavras já não sabem a nada? O que é que se passa? Não declamou Flaubert a sua Bovary em altos gritos, até furar os tímpanos? Não estará ele definitivamente melhor colocado do que qualquer outro para saber que a compreensão do texto passa pelo som das palavras, de onde deriva todo o seu sentido? Não saberia ele como ninguém, ele que tanto lutou contra a música intempestiva das sílabas, contra a tirania das cadências, que o sentido se pronuncia? Então? Textos mudos para puros espíritos? Rabelais, ajuda-me! Flaubert, Dosto, Kafka, Dickens, acudam-me! Gigantescos anunciadores de sentido, venham cá! Venham soprar nos nossos livros! As palavras precisam de corpo! Os nossos livros precisam de ter vida! (…)"
Daniel Pennac ( pp. 164-165)
De facto, Pennac, atenta ao longo desta sua obra fantástica, nos porquês da inapetência dos jovens de hoje para a leitura. Problemática que, aliás, tem sido sobejamente discutida pelas famílias, professores, educadores, órgãos de comunicação social, enfim, pelos mais variados actores sociais intervenientes no processo educativo. Esta questão é abordada pelo autor com um enorme sentido de humor mas, ainda assim, de forma séria, pertinente e responsável; demonstrando que o verbo ler não suporta o imperativo e, como tal, não pode ser conjugado por obrigação. Assim, ler é/deve ser um prazer, desenvolvido, de preferência, desde muito cedo e “em voz alta”.
Por falar em prazer de ler..
Escolhi para assinalar o dia de hoje A MAIOR FLOR DO MUNDO, de José Saramago.
Escolhi para assinalar o dia de hoje A MAIOR FLOR DO MUNDO, de José Saramago.
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Sabias que José Saramago tinha escrito um livro para crianças dos 7 aos 77?
"A Maior Flor do Mundo" conta a história de um menino que vai até ao fim do mundo para salvar uma flor. Ou ainda, como diz o Nobel da Literatura, é "uma proposta para as crianças reinventarem outras histórias". As ilustrações são de João Caetano.
"E se as histórias para crianças fossem de leitura obrigatória para os adultos?
Seríamos realmente capazes de aprender aquilo que há tanto tempo ensinamos?”
José Saramago
Inspirado na obra “A maior flor do mundo”, de José Saramago, Juan Pablo Etcheberry realizou esta maravilhosa curta-metragem. A narração é feita pelo próprio autor e personagem, José Saramago (Prémio Nobel da Literatura, em 1998).
Não podia deixar de a partilhar convosco. Está uma delícia!
Direcção: Juan Pablo Etcheverry
Guionista: Juan Pablo Etcheverry (adaptada de A maior flor do mundo, de José Saramago)
Ilustração: Diego Mallo
Produção: Chelo Loureiro
Música: Emilio ARAGÓN
(Vídeo extraído de elpais.com)
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