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quinta-feira, 9 de maio de 2013


PRL - O poema da semana
quinta-feira, 9 de maio de 2013

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PRANTO DOS EUROPEUS
À SAÍDA DO FESTIM
I
Pronta que foi a obra e ficaram os deuses
parados no azul e se abriram os zeros
nós saímos dos ovos e quisemos ser números
para que a cada um chamasse pelo seu nome
a luz que em seus andaimes mais altos nos provoca
com os loucos instrumentos que põe dentro do eterno
O anjo do ocidente à entrada do ferro
sorriu e atraiu-nos aos cantos mais escuros
de um lugar abolido pois sempre à criação
angustia o criado    Sombriamente puros
são os deuses insanos a fugir aos seus actos
que depressa abandonam como animais imundos
Mas tínhamos a força de uma breve existência
que de nós se escapava como um sonho de gás
e numa concordância sombria de formigas
uma a uma levámos as colunas de uma Europa
chamada pelos confins raivosos dos metais
e onde nos deslumbrou a estrela dos incêndios
demos futuro às cinzas às chamas capitais
velocidade aos venenos miasmas aos países
ao malefício os ímanes que desvairam as águas
e ao zodíaco uma estância de espinhos no aquário
As coisas que tocámos cobrimos de feridas
com a estranha violência de as amarmos demais
Terrível é o material grátis da inocência
porque tudo se dava virginalmente a nós
como a um excesso de mãos apenas aprendidas
e pródigos de sermos os maiorais da terra
inspirados por guerras e templos litigantes
como assombros proscritos as cidades cresciam
numa fuga para as nuvens em colunas tiritantes
que seguram o anátema que vai cair dos céus.
                                               Natália Correia in O Anjo do Ocidente à Entrada do Ferro

sábado, 4 de maio de 2013




"PRL - o poema da semana
segunda-feira, 29 de Abril de 2013"

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Meu Portugal em Paris
 
Solitário
por entre a gente eu vi o meu país.
Era um perfil
de sal
e abril.
Era um puro país azul e proletário.
Anónimo passava. E era Portugal
que passava por entre a gente e solitário
nas ruas de Paris.
 
Vi minha pátria derramada
na Gare de Austerlitz.
Eram cestos
e cestos pelo chão. Pedaços
do meu país.
Restos.
Braços.
Minha pátria sem nada
despejada nas ruas de Paris.
 
E o trigo?
E o mar?
Foi a terra que não te quis
ou alguém que roubou as flores de abril?
Solitário por entre a gente caminhei contigo
os olhos longe como o trigo e o mar.
Éramos cem duzentos mil?
E caminhávamos. Braços e mãos para alugar
meu Portugal nas ruas de Paris.
 
Manuel Alegre in O Canto e as Armas (1967)